É certo que D&D 4ed não é a melhor escolha para se jogar um combate por posts, mas não é algo impossível. Afinal, nosso grupo conseguiu, sendo inclusive uma experiência que superou as nossas expectativas. Mas primeiro, vou falar rapidamente de como usamos o Facebook para isso.
Antes de tudo, criei um grupo no site, chamado "D&D Play-by-Post" e convidei os 6 amigos sempre jogam comigo, incluindo o Julio, que viajou recentemente para a Alemanha. Afinal, foi justamente esse o motivo de nossa experiência. Julio estava indo para a Europa e ainda faltava enfrentar uns monstros dos quais os personagens sempre fugiam. Após o encerramento da campanha, ficou faltando acertar as contas com os tríbulos brutais. Um jogo no estilo by post seria ideal já que não seria necessário que todos estivessem conectados ao mesmo tempo. Quando se tivesse tempo, era só visitar o grupo e postar suas ações, tirar eventuais dúvidas ou fazer comentários do tipo besteirol, o que faz parte, e muito, do jogo.
Então, criei esse grupo, convidei eles, escaneei as fichas em formato PDF e inseri no próprio grupo (tem essa opção lá) para eles baixarem. Depois, num belo dia, avisei pelo próprio Facebook o dia em que ia publicar o post de início do combate, descrevendo a situação na qual eles se encontram com os tríbulos. No dia marcado, seguindo sugestões de Julio, publiquei, além do post de início, outro post só para as tais conversas paralelas, discussões e brincadeiras. O post principal seria reservado apenas para a declaração de ações e dos resultados do DM. Nesse post principal, usei a seguinte fórmula de rodada:
1) DM descreve a situação de início do encontro com os monstros e já coloca a ordem de iniciativa que eu rolei individualmente para cada combatente, usando seus devidos modificadores.
2)O DM espera que todos os jogadores declarem as ações de seus personagens.
3)O DM processa as ações dos pjs e dos monstros de acordo com a ordem de iniciativa.
4)Volte para a etapa 2.
Percebam que essa não é a fórmula das regras oficiais, mas numa situação de play-by-post, acredito que seja uma boa escolha.
PROBLEMAS COM AÇÕES IMEDIATAS
No entanto, percebi que o maior problema dessa 4ª edição, nesse sentido, é o fato de ela conflitar com essa fórmula. O principal problema são as ações imediatas (reações e interrupções). E são muitas! Principalmente em níveis altos. E como jogamos com pjs no nível 19 eu vi o quanto é complicado resolver isso.
As soluções que aponto para lidar com isso são:
a) Permitir que o DM decida pelos jogadores quais poderes de gatilho usar de forma que os jogadores só se preocupam com suas ações principais.
b) Os jogadores declaram, previamente, na primeira declaração de ações, instruções do tipo "se... então" e o DM se limita apenas a seguir essas instruções.
c) Algo que englobe as duas opções acima.
A solução A dá muito trabalho ao mestre. A solução B reduz muito o esforço, mas pode ser injusto aos jogadores. A opção C é algo intermediário de esforço e de justiça. O DM faz o que os jogadores tentaram prever, mas também tenta adivinhar o que eles fariam caso uma situação inesperada ocorra. Eu tentei usar, depois da primeira rodada, a C.
Por exemplo: Inicialmente, só havia dois monstros no campo de batalha. Todos declaram ações padrões e de gatilho com base apenas nesses dois monstros. No entanto, no meio do combate, surge um verme púrpura de dentro do solo atacando terrivelmente o mago do grupo que ficou lá atrás desprotegido. O jogador do eladrin lâmina arcana (defensor), cheio de interrupções imediatas para proteger seus aliados, não tinha como prever a situação e não declarou nada a respeito de teleportar o mago caso ele fosse atacado. A solução B sugere que o lâmina arcana, mesmo podendo, não teleportaria o mago para um local seguro antes de ser atingido mortalmente pelo verme apenas porque o jogador não previu isso. Enquanto muitos consideram isso algo injusto, pode ser considerado realista já que é plausível acreditar que o lâmina arcana, concentrado nos dois monstros iniciais, não teve tempo para teleportar o mago. Se fosse pela solução A, o Mestre, sabendo do poder do eladrin, poderia prever que ele realmente teleportaria o mago para longe do verme, mesmo que ele não tivesse previsto isso em sua declaração de ações.
Assim, mesmo usando a opção C, onde os jogadores declarariam previsões sobre suas ações de gatilho, o DM ainda precisaria conhecer bem os poderes de todos os pjs para usá-los quando fosse apropriado. Qual a solução para isso? Até agora pensei em duas:
a) O DM limita o número de combatentes a, no máximo, seis. Digo, incluindo até os monstros. Isso dá mais ou menos uns três ou quatro jogadores enfrentando um ou dois monstros poderosos. Reduzir o número de combatente é essencial quando se joga a 4ed dessa forma.
b) Outra forma é evitar ações que ativem os ditos gatilhos das ações imediatas dos jogadores. Fazer isso depende muito dos personagens de seu grupo. No meu, como visto, há um lâmina arcana que pode ativar vários poderes caso um monstro ataque um aliado. Assim, reduziria bastante as ações imediatas caso eu concentre meus ataques apenas nele. Defensor é pra isso mesmo.
Porém, as reações imediatas sempre serão um problema para o DM. Não há como ser, sempre, um estrategista ótimo para os jogadores nesse sentido. Portanto, os jogadores não devem cobrar muito do DM caso ele use de forma não tão eficaz um ou outro poder de gatilho de seu personagem. Essa é a falha da 4ed para jogar no estilo por posts.
Fora isso, sugiro algumas dicas, as quais pretendo usar futuramente nos combates by post de uma nova campanha a ser jogada com os mesmos pjs da antiga, agora em nível épico. Se fosse presencialmente, os combates já seriam complicados. Por posts, isso complica mais. Então, é necessário mudanças na forma como jogamos, na qual todas as rolagens de danos eram feitas pelo DM. Fora isso, todo turno eu precisava fazer várias consultas nas fichas de personagens e em livros de regras.
DICAS PARA CONDUZIR COMBATES NO PLAY-BY-POST
Portanto, abaixo seguem algumas dicas para os jogadores e para os DMs que pretendem jogar dessa forma. Já aviso aos jogadores de nossa campanha que elas serão adotadas.
1.DM, conheça muito bem os poderes e habilidades dos personagens dos jogadores. Você vai precisar desse conhecimento para aplicar ações imediatas em momentos não previstos por eles.
2.DM, facilite sua vida. Use um software de gerenciamento de combate da 4ed. Sugiro o 4eTurntracker ou o DnD Combat Manager (DnD4eCM). Você controla facilmente os pontos de vida de todo mundo, penalidades ou bônus condicionais, e não precisa ficar sempre lembrando de colocar dano contínuo ou checando condições. Até os Testes de Resistência dos combatentes o programa já rola automaticamente por você no fim de cada turno.
3. Jogador, seja claro na ordem de ações que seu personagem está tomando. O DM sempre considera que a ordem que você escreveu as ações é a ordem em que seu personagem as realizará.
4.Jogador, dependendo das características de seu personagem, suas defesas ou bônus de ataque poderão variar dependendo da situação em que se encontra seu personagem. Para melhor explicar isso, permito-me citar aqui a sugestão de Julio (Aurion, lâmina arcana), que jogou o combate lá de Bochum, Alemanha:
"O problema é que toda atenção relativa a buffs, debuffs, TRs, são concentradas no Mestre. Por exemplo, minha CA ou defesas são muito complicadas de calcular devido a vários condicionais que posso impor durante o combate. O mesmo acontece pros danos do pessoal. O que pode ser feito é tentar dividir ao máximo o trabalho. Por exemplo, na minha ação eu podia ao menos declarar quais meus valores atuais de CA e Defesas de acordo com tudo que está acontecendo comigo. Do mesmo modo, a galera do dano pesado pode se esforçar mais para explicar seu dano."
5. Assim, jogador, sempre, antes de descrever suas ações, tenha certeza de escrever suas defesas atuais. Por exemplo, um dos personagens do grupo é um bárbaro. Quando entra em fúria ele aumenta sua CA. É bom começar a pensar num modelo de declaração de ações que contém informações que facilitam a visualização. Quando o DM for atacar o pj, não precisa ficar calculando eventuais bônus obscuros que ele tem pouco domínio. Bastaria olhar na última declaração do respectivo jogador.
6.Jogador, na hora de declarar suas ações, seja específico em relação ao bônus de ataque e dano de cada poder declarado. Por exemplo, não declare seus poderes apenas dizendo algo como:
"
Meu ranger ataca o líder orc com Tiro Estilhaçador [Des vs CA; dano de 3[A] + os bônus]".
O que custa colocar logo o dano da arma (d12) e o valor exato dos bônus de ataque (+25) e de dano(+15)? Custa olhar na ficha? O personagem é seu e você deveria saber dessa informação básica decorada. Eventuais habilidades específicas condicionais, como um bônus no ataque e dano pelo fato de o alvo estar em condição "sangrando" , também devem ser declarados pelos pjs. O DM não precisa se preocupar com isso e nem se preocupará.
7. Para melhorar ainda mais a última dica, determine o uso de um dano fixo (dano médio por exemplo). Isso reduz as rolagens feitas pelo DM e agiliza tudo. Na minha campanha, não usarei o dano médio, mas um resultado um pouco acima, para as coisas ficarem mais mortais. Assim, os dados seriam substituídos pelos seguintes valores: d4=3, d6=4, d8=6, d10=7 e d12=9. Assim, aquela declaração do ranger ficaria assim:
"Ataco o líder orc com Tiro Estilhaçador [+25 vs CA; Dano de 42]".
Afinal, 3x9+15=42. Muito melhor. Lembre que o mesmo vale para os monstros. Aliás, alguns grupos poderiam preferir que as defesas dos monstros fossem reveladas. Assim, a declaração já incluiria o valor da CA do alvo do pj, o que agilizaria as coisas ainda mais:
"Ataco o líder orc com Tiro Estilhaçador [+25 vs CA 32; Dano de 42]. Se eu tirar 7 já acerto! ".
O DM não precisaria abrir nada, nem a ficha do monstro. Só olharia a declaração no post e jogaria um d20, vendo se tiraria um 7 ou mais!
Declarar dessas formas reduz muito o trabalho do DM - aumentando a diversão dele - e agiliza na publicação dos resultados da rodada. Ele não vai precisar ficar consultando livros ou fichas de personagem a cada turno. Ele simplesmente vai rolar os dados olhando apenas para o post. Se algum jogador insistir em declarar as coisas de forma a forçar o DM a abrir sua ficha de pj, apenas ignore a ação dele ou simplesmente determine que a ação falhou e ele desperdiçou o poder. Por sua vez, o DM precisa confiar nos jogadores. Afinal, não adianta muito os jogadores tomarem cuidado em agilizar as coisas se o DM fica, ainda assim consultando livro de regra e ficha de pj pra ver se aquilo está de acordo com as regras ou não. Assuma que todos os jogadores conhecem bem as regras que envolvem seus personagens e não cometerão erros em relação a essas informações.
8.Na publicação dos resultados, descreva a narrativa de forma vívida, sem muitos termos técnicos. Não precisa colocar o valor do dano sempre que alguém levar um golpe, mas no final do texto, coloque uma lista com os combatentes, com seus pontos de vida atuais e condições. Em relação aos monstros, apenas se preocupe revelar suas condições. Se quiser, coloque o dano sofrido pelos monstros, mas isso eu considero opcional.
GRID DE COMBATE
Na minha primeira e única experiência de combate by post, pretendi narrar uma luta sem o uso de um grid, mas os jogadores logo foram fazendo perguntas relacionadas ao posicionamento e tive que colocar logo o grid. Em cada rodada, eu atualizava o posicionamento dos combatentes no Maptool, incluindo eventuais zonas desencadeadas pelos poderes e postava a imagem no grupo. Você pode jogar assim, com o grid, pois vimos que é bem possível e, de fato, muitos jogadores irão preferir dessa forma. Em nossa experiência, os posts incluindo o grid com o posicionamento atualizado começaram a servir como espaço para discussão sobre a próxima rodada.
Mas isso representa um esforço a mais para o DM, fora os questionamentos extras sobre posicionamento por parte dos jogadores. Se você, como DM, processa as rodadas todo o dia, como eu estava fazendo, isso pode sobrecarregar você. Por isso, talvez seja melhor fazer uma adaptação para jogar o combate sem grid mesmo, só com base na narrativa e na imaginação, se utilizando, no máximo de uma imagem de rascunho para mostrar mais ou menos como é o cenário da luta. Para isso você pode usar as sugestões indicadas em outros posts deste blog ou criar suas próprias regras da casa para lidar com algumas regras de posicionamento tático, como os ataques de oportunidade e áreas de terreno acidentado.
Essas são impressões e dicas feitas com base em apenas uma experiência de combate by post. Certamente outros ajustes podem ser feitos. Mas por enquanto é isso, pessoal. Um abraço.